O ano de 2020 trouxe mudanças intensas para o cenário do Comércio Exterior, devido, principalmente, à pandemia de Covid-19. E para 2021, esperava-se que com o avanço da vacinação e a reabertura gradual das fronteiras, as operações e relações internacionais se estabilizassem novamente.
Porém, um desafio que permanece até os dias de hoje, e que já existia antes da pandemia, é a questão do frete internacional, que vem dificultando a rotina de quem trabalha com importação e exportação.
Por isso, neste artigo vamos tratar sobre os principais motivos para o aumento do valor do frete e como ele vem afetando o comex.
O que é o frete internacional?
Realizar uma importação e exportação demanda tempo e planejamento, que vai desde a fase pré-operacional, que você vai decidir, por exemplo, em qual nicho atuará, até a fase em que irá enviar ou receber a mercadoria desejada.
E a fase de escolha do frete internacional não é diferente: é necessário ter um processo organizado e integrado para que erros não ocorram. Ele nada mais é do que o deslocamento da mercadoria entre os países, e é estabelecido através de um contrato internacional entre as partes.
Esse deslocamento físico do produto pode envolver apenas um ou mais modais, estando entre os mais utilizados o marítimo, o aéreo e o rodoviário.
Importante ressaltar que o valor do frete pode ser alterado de acordo com o modal, a urgência, a frequência, a disponibilidade e as características da mercadoria, como peso, volume e perecibilidade. Essas variáveis também impactam na escolha do tipo de frete.
O impacto da pandemia no frete internacional
Há alguns meses, o Comércio Exterior vem encarando, com uma frequência cada vez maior, a dificuldade de cumprir com os prazos de entrega acordados e de encontrar fretes que não estejam com um valor abusivo.
A seguir vamos explicitar os principais motivos desse problema:
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Lei da oferta e da demanda
Com a gradual retomada econômica, o número de encomendas por produtos e insumos do comércio internacional aumentaram de forma considerável, sobrecarregando os armadores e a capacidade logística.
Se tomarmos as importações brasileiras como exemplo, podemos ver que as importações de janeiro – agosto/2021 sofreram um aumento de 34,41% em relação ao mesmo período de 2020, e de 9,06% em relação a 2019. Ou seja, o nível pré-pandemia já foi ultrapassado.
Logo, como passou a existir uma demanda consideravelmente maior do que a oferta, o preço do frete internacional aumentou.
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Surtos de Covid-19 nos portos chineses
A China vem enfrentando, ao longo de 2021, surtos de Covid-19 em seus portos, o que faz com que eles sejam fechados temporariamente, como ocorreu em agosto com o porto de de Ningbo-Zhoushan. Como consequência, há a suspensão do transporte de contêineres, que ficam presos nos portos com as mercadorias.
Isso desencadeia um efeito cascata: como os navios não poderão atracar em portos específicos, terão que procurar outros, que já estão sobrecarregados, além do atraso de, no mínimo, duas semanas nas entregas.
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O Canal do Suez
Em março deste ano, o navio Ever Given encalhou no canal do Suez, no Egito, uma das rotas comerciais mais movimentadas do mundo. Estima-se que mais de 420 embarcações foram impedidas de atravessarem durante os 6 dias em que o navio ficou encalhado.
A plataforma de visibilidade da cadeia de abastecimento Project44 divulgou que os atrasos cumulativos devem chegar a 1.107 dias, ou seja, cerca de 36 meses. Até hoje o comércio exterior sofre os efeitos desse encalhamento, e ele pode ser visto como uma das razões para a crise do frete internacional.
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Monopolização do mercado
Hoje os quatro maiores armadores do mundo detém cerca de 60% do mercado de frete e de logística internacional, o que diminui a competição entre concorrentes e aumenta os poderes de barganha dos armadores no cenário mundial.
Por isso, pode ser tido como uma das razões para o aumento dos valores.
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Brasil está fora da rota internacional
Outro importante motivo para esse problema é o fato do Brasil representar apenas 1% do mercado internacional e estar fora das principais rotas de navegação.
Por ainda apresentar baixa relevância frente ao comex, as indústrias brasileiras encontram-se em um cenário de vulnerabilidade com relação à oferta, aos preços do frete internacional e à eficiência aduaneira-portuária.
O que podemos esperar para os próximos meses quanto ao frete internacional?
Ao olharmos para o médio prazo, as expectativas são de que essas dificuldades com relação ao frete internacional continuem presentes no cotidiano do Comércio Exterior.
Espera-se que a normalização do frete internacional comece a ocorrer em meados de 2022, junto com o maior controle da pandemia.
Essa é uma previsão otimista de mercado, e, até que os fretes realmente estejam equilibrados, separamos alguns passos que podem auxiliar durante esse período:
- Planejar de forma antecipada suas importações e exportações;
- Estudar possíveis novas rotas e fornecedores mais próximos;
- Realizar um acompanhamento próximo dos valores dos fretes;
- Utilizar ferramentas que tornem os seus processos mais rápidos, escaláveis e eficientes.
The worst disaster “Ever Given”