O cenário turbulento apresentado logo no início da década de 2020 repercutiu em desafios da logística internacional que são enfrentados até os dias atuais. Às vezes não com a mesma intensidade inicial, porém ainda permanece dando dores de cabeça aos empresários ao redor do mundo. As mudanças nos fluxos comerciais por conta da pandemia afetaram as relações políticas, econômicas e sociais entre países.
Conforme Machado e Santos (2021): “O setor logístico impacta nessas relações e na vantagem competitiva dos países, sendo que uma compreensão do desempenho logístico pode mostrar as vantagens e pontos mais vulneráveis em uma negociação internacional.”
Do final de 2022 ao início de 2023, ocorrerão acontecimentos importantes, como:
- a decisão do país que ganhará a copa do mundo, o que à princípio pode ser algo que não tem relevância internacional, porém, geralmente, influencia a demanda/consumo nos países vencedores/perdedores;
- estruturação do novo governo brasileiro e definição das parcerias comerciais;
- Natal, período de aquecimento do comércio global;
- as novas repercussões da situação entre Ucrânia e Rússia;
- e o impacto das novas sub variantes de covid-19 que está levando a alguns lugares a voltarem com as medidas preventivas, como o uso de máscara devido aos novos lockdowns na China.
Dessa forma, além dos fatores políticos, econômicos, culturais e sociais que estão em alta no momento, os ligados diretamente à logística, como a burocracia e as novas discussões de mudanças legislativas no país; as relacionadas às operações de carregamento e descarregamento; transporte interno etc. Esse cenário revela 2023 como o ano mais desafiador para empresas que importam ou do tipo Trading Company.
Segundo Leandro Carelli Barreto, diretor da Solve, empresa composta por profissionais com mais de 40 anos de experiência no mercado com Shipping Intelligence, “A principal incógnita para 2023 é o tamanho, a dimensão e a duração da queda na demanda internacional, em virtude da alta da inflação/juros em todo o mundo, guerra na Ucrânia, novos lockdowns na China, retomada de gastos com serviços no ocidente (em detrimento da explosão do e-commerce observada durante os períodos de confinamento), fim dos incentivos fiscais etc.”.
É possível afirmar, portanto, que esses fatores poderão desequilibrar a relação entre a oferta e demanda na logística internacional. Sendo assim, para a sobrevivência de uma empresa atuante no comércio exterior, no planejamento para o ano que vem devem constar as variáveis, os gargalos e as soluções para a preparação, gerenciamento e sustentação, da logística internacional para que não haja excesso ou falta de itens no estoque em 2023.
Oferta versus Demanda
De acordo com o artigo publicado pela revista Portos e Navios, no início de novembro deste ano, tendo em vista o transporte marítimo internacional, o que pode se concretizar como um verdadeiro desafio para a logística internacional em 2023 é a queda do preço dos fretes, pois a oferta de navios irá aumentar.
Pela ótica do modal aéreo, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), houve resultados positivos porque apresentaram crescimento de 24,3% do volume de carga e correio despachados e o aproveitamento de aeronaves subiu em 1%. É válido acrescentar que a movimentação de cargas totalizou 83,3 mil toneladas, o que equivale a 124,3% da atividade em agosto de 2019.
A recuperação do setor nos últimos anos evidencia o ressurgimento da demanda, porém acontecimentos com repercussões globais, como, de acordo com a Associação Internacional de Transportes Aéreos (em inglês International Air Transport Association – IATA), a guerra na Ucrânia, irá manter alguns custos altos, como os gastos com combustíveis. Isso, combinado às restrições por órgãos internacionais e regulamentações entre fronteiras, irá dificultar a diminuição dos fretes.
Já o modal ferroviário, a partir dos dados e informações apresentados pelo Ministério da Infraestrutura em outubro de 2022, se apresenta com um futuro promissor.
Novas Regulamentações e Resoluções
O acompanhamento das novas regulamentações é vital para a autorização para uma empresa atuar no comércio interno e externo. Dessa maneira, veja abaixo algumas normas para estudar e acompanhar:
- Lei Nº 14.286, de 29 de dezembro de 2021: que dispõe sobre o mercado de câmbio brasileiro, o capital brasileiro no exterior, o capital estrangeiro no País e a prestação de informações ao Banco Central do Brasil e entra em vigor dia 31 de dezembro de 2022.
- IMO 2023: que pode levar ao sucateamento de navios ineficientes, além da redução da velocidade dos navios visando reduzir as emissões de enxofre trocando os combustíveis dos navios.
- Atualização da Norma Internacional para Medidas Fitossanitárias nº 15 (NIMF 15) da Convenção Internacional para a Proteção dos Vegetais (CIPV): que revoga a Instrução Normativa nº 32/2015.
- Resolução RDC nº 761/2022: estabelece novas medidas para serem adotadas em aeroportos e aeronaves.
- Convenção de Sentenças: realizada na Conferência da Haia de Direito Internacional Privado, em 2019, terá efeitos a partir de 2023.
Reformulação e Resiliência
Para sobreviver às novas realidades as empresas precisarão ter atenção redobrada aos eventos e geopolítica em nível global, foco na segurança, investimento em novas tecnologias, fazer a análise do ambiente interno e encontrar os possíveis gargalos operacionais, melhorar o gerenciamento dos estoques e criar planos de contingência.
É necessário contar com uma equipe logística muito capacitada e desenvolver parceiros com bastante know-how e profissionalismo. Visto isso, a partir da reformulação e resiliência, as organizações nacionais irão estar preparadas para superar os desafios da logística internacional a serem enfrentados em 2023.